quinta-feira, 12 de novembro de 2015

14ª leitura: "Carmina Burana".

Sobre os manuscritos do Carmina Burana, diz CARPEAUX:

“O poeta de alguns manuscritos alemães chama-se ‘Archipoeta’; os ingleses preferem dizer ‘Golias’; certas alusões a paisagens tipicamente italianas indicariam a nacionalidade do autor, mas os goliardos todos, como ‘vagantes’, conheciam bem a Itália. Na verdade, trata-se de uma figura coletiva e internacional, como toda a literatura latina da Idade Media. O ‘Archipoeta’ está em casa em toda a parte, ou antes, em nenhuma parte, e quando presta homenagens ao imperador, não é por patriotismo alemão, e sim por ódio contra os altos dignitários da Igreja; este ‘Archipoeta’, aliás, é do século XII, ao passo que a maior parte dos poemas se situa por volta de 1230. A ‘decadência’ goliárdica coincide com o apogeu da escolástica.

O autor coletivo da poesia dos ‘clerici vagantes’ é um grande poeta, talvez um dos maiores da literatura universal. Em primeira linha, é um humorista sutil, que sabe inventar frases sempre novas e engenhosas para pedir dinheiro aos ricos. O goliardo é pobre, é mendigo. Os estudos já o aborrecem – ‘Florebat olim studiam, / Nunc vertitur in taedium...’ [Floresci já no estudo, / Que agora se verteu em tédio] – e o seu júbilo, viajando para a famosíssima Universidade de Paris – ‘Vale, dulcis patria! / Suavis suevorum Suevia! / Salve, dilecta Francia, / Philosophorum cúria!’ [Adeus, doce pátria! / ? / Salve, França querida, /Cúria dos filósofos!] – parece ter menos em mente os filósofos do que as moças (‘...iam virgo maturuit, / iam tumescunt ubera’ [as virgens já amadureceram, os seios já incharam]); e no amor o goliardo é insaciável: ‘Si tenerem, quam cupio, / In nemore sub folio, / Oscularer com gaudio’ [Se agarrassem aquela que eu desejo, sob as folhas dos galhos, eu a beijaria com alegria]. As mulheres e o vinho. Com gravidade solene, fala do ‘Istum vinum, / bonum vinum, vinum generosum’ [Este vinho, belo vinho, vinho generoso], e chega a parodiar o hino ‘Verbum bonum et suave’, no verso ‘Vinum bonum et suave’. Eis, porém, que chega a velhice. O goliardo sente remorsos religiosos: “Omnes quidem sumus rei, / Nullus imitator Dei, / Nullus vult portare crucem’ [Todos nós somos culpados, / Ninguém é capaz de imitar a Deus / Ninguém quer carregar a cruz]. O arrependimento é pouco sincero. Mais uns versos contra ‘rex hoc tempore summus’ [o mais alto Rei de hoje], o dinheiro, e então o goliardo faz a sua confissão contrita, a ‘Confessio Goliae’, na qual se encontra o verso blasfemo ‘Mihi est propositum in taberna mori’. É a despedida do gênio, corrompido e perdido na taverna; depois, desaparece sem deixar vestígios”.

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Na pasta de arquivos online, consta um PDF com as letras traduzidas do Carmina Burana, que também podem ser encontradas online, através deste link: http://user.das.ufsc.br/~sumar/perfumaria/Carmina_Burana/carmina_burana.htm. O link para a pasta de arquivos online é: https://www.dropbox.com/home/Grupo%20de%20Estudo%20e%20Leitura%20dos%20Cl%C3%A1ssicos.

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