quinta-feira, 16 de abril de 2015

Terceira leitura: "Antígona", de Sófocles

Segue um breve resumo dos antecedentes e da trama de "ANTÍGONA", de Sófocles:

Édipo, Rei de Tebas, ao descobrir que Jocasta, além de sua esposa, era sua mãe, arranca os próprios olhos (trama de Édipo Rei) e sai vagueando pelo mundo até chegar a Colono, perto de Atenas, onde morre (trama de Édipo em Colono). Jocasta, sabendo que havia se casado com o próprio filho, enforca-se. Tebas fica desgovernada.

Em vida, porém, os dois tiveram 4 filhos: Etéocles, Polinices, Antígona e Ismênia. Com a debandada de Édipo, estabelece-se em Tebas que os irmãos Etéocles e Polinices reinariam, um a cada ano, sucessivamente. Etéocles, sendo o primeiro a reinar, se recusa a ceder a vez ao irmão mais novo, Policines, que, durante esse primeiro ano de reinado do irmão Etéocles, havia se instalado na corte de Árgos, uma das cidades gregas que, como Tebas, faziam parte da Conferência da Beócia. Lá, inclusive, ele havia se casado com a filha do Rei. Quando ele, Polinices, descobre que foi traído pelo irmão, reúne um exército com a ajuda de seu sogro, Rei de Árgos, e outros seis grandes heróis, e parte para atacar a cidade de Tebas, que tinha sete grandes portões (trama de Os Sete contra Tebas). No maior dos portões, o mais fortificado, Etéocles e Polinices se enfrentam; ambos morrem.

Jocasta, ex-rainha de Tebas que havia se enforcado, deixou um irmão chamado Creonte. Com a morte de Etéocles e Polinices, ele mesmo, Creonte, é quem toma o poder e assume o trono de Tebas. Ele enterra o corpo de Etéocles com honras de herói e deixa o corpo de Polinices largado às hienas, para ser devorado pelos abutres. É precisamente contra isso que se revolta Antígona. Em franca desobediência ao mandamento de Creonte (e dizendo-se fiel “às leis não escritas dos deuses”, superiores às do tirano), Antígona enterra o corpo do irmão Polinices. Ismênia, sua irmã, que não havia concordado com o ato no começo da história, tenta agora assumir a responsabilidade pelo feito da irmã; o faz em vão, e ambas são condenadas à morte.

Antígona, porém, estava noiva; seu futuro marido seria Hémon, justamente o filho de Creonte. Ele tenta por todos os meios convencer o pai de que está errado em suas decisões, inclusive demonstrando a ele que todo o povo está a favor de Antígona; Creonte, no entanto, não se deixa persuadir. Até que o respeitado e conhecido adivinho, o cego Tirésias, vem apelar a Creonte, dizendo que os deuses já estão furiosos com sua obstinação; a princípio irredutível, o tirano enfim se deixa convencer e parte para libertar Antígona.

Ao encontrá-la, depara-se com uma cena aterradora: ela havia se enforcado, seu noivo Hémon, filho de Creonte, em prantos, tenta matar o pai assim que o avista; Creonte foge e Hémon, louco de ódio, suicida-se. As notícias fúnebres chegam à mulher de Creonte, Eurídice, que, diante de tamanha amargura, também suicida-se. Resta Creonte, rodeado a um tempo pela presença esmagadora da culpa assassina e a incapacidade de governar sua terra. Ismênia também resta viva.

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Sobre Antígona, CARPEAUX diz:

“‘Lirismo’ é o verdadeiro nome da ordem divina e humana no mundo de Sófocles; sintomas dum equilíbrio precário, porque puramente estético. Na Antígona, não existe mediação dramática possível entre a lei cruel e inelutável que impõe a Creonte, tirano contra a vontade, a perseguição do inimigo para além da morte, e, por outro lado, o sentimento íntimo, quase cristão, da Antígone: ‘Não nasci para odiar com os outros, mas para amar com os outros’.

[...] Contudo, o pessimismo de Sófocles – um crítico moderno fala de ‘visão pavorosa da vida’ – não é absoluto; porque pelo sofrimento, e só pelo sofrimento, conseguimos a plena consciência da nossa situação no cosmo. Sem o conflito trágico com a lei do Estado, Antígone seria só uma criatura sentimental; o conflito lhe revela a força do seu imperativo de consciência que lhe impôs a resistência – e assim Antígona se tornou o símbolo permanente de todas as Resistências. De igual modo se torna Édipo o símbolo permanente dos erros trágicos da humanidade: através das complicações dum enredo quase diabólico, os erros se dissipam e Édipo se transforma de homem infeliz em homem trágico, aceitando o que a vida lhe impôs.


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Na pasta de arquivos online, pode-se encontrar uma tradução brasileira de Antígona num PDF que reúne também as peças antecedentes, Édipo Rei e Édipo em Colono:
 https://www.dropbox.com/home/Grupo%20de%20Estudo%20e%20Leitura%20dos%20Cl%C3%A1ssicos

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