quinta-feira, 16 de abril de 2015

Retomada: Hesíodo e Píndaro

Após uma breve pausa, retomamos o estudo com a leitura dos clássicos posteriores a Homero - os primeiros nomes que surgem são os de Hesíodo e Píndaro. Quanto a eles, Otto Maria CARPEAUX nos diz o seguinte:

“Homero parece situado fora do tempo. Em comparação, Hesíodo já é poeta de uma época histórica, se bem que primitiva. A Teogonia revela crenças religiosas pré-homéricas: a narração das cinco idades da Humanidade, da idade áurea até a idade do ferro, está imbuída de um pessimismo pouco homérico, e os mitos do caos, da luta dos deuses, dos gigantes, de Prometeu e Pandora, cheiram ao terror cósmico, próprio dos povos primitivos.

[...] Os trabalhos e os dias, a outra obra de Hesíodo, é uma espécie de poema didático, que estabelece normas de agricultura, de educação dos filhos, de práticas supersticiosas na vida cotidiana. É uma poesia cinzenta, prosaica. Não tem nada com Homero. Não se trata de guerras, e sim de trabalhos, não de reis, e sim de camponeses; camponeses que se queixam da miséria e da opressão, e cujo ideal é a honestidade, cuja esperança é a justiça. [...] Hesíodo não é um produto da decadência; é o Homero dos proletários, é o reverso da medalha”.

“Os nossos conhecimentos da poesia lírica grega são precários. Com exceção da obra de Píndaro, possuímos só fragmentos, que não permitem reconhecer a personalidade dos poetas, nem sequer nos dão ideia bastante exata do que foi aquela poesia [...]. Além disso, a poesia lírica grega estava intimamente ligada à música; e da música grega não podemos formar ideia.

[...] A maior parte das poesias de Píndaro chama-se “Epinikioi”: canções de vitórias, quer dizer, de vitórias em jogos esportivos; são epinícios olímpicos, píticos, nemeus, ístmicos, assim denominados conforme os lugares nos quais as festas esportivas se celebraram. A primeira impressão da poesia pindárica é: aristocracia. Não há, no mundo, poesia mais solene, mais nobre; daí a atração irresistível que Píndaro exerceu em todos os séculos aristocráticos [...].

Píndaro canta o mito para estabelecer uma ligação entre os feitos dos deuses e dos heróis de outrora e o feito esportivo do dia: para demonstrar que os homens são capazes de grandes coisas, mas que o deus é sempre superior à mais elevada condição humana. É poesia de aristocratas que se educam para merecer a sua posição; mas o poeta lhes observa que a sua ética depende da sanção divina. Eis a religião aristocrática ou o aristocratismo religioso de Píndaro. O homem é aristocrata quando consegue o equilíbrio – um equilíbrio homérico – entre as faculdades físicas e as faculdades espirituais, como os jogos gregos o revelam; por isso, a poesia é capaz de celebrar a vitória do corpo”.

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Na pasta de arquivos online, é possível baixar os PDFs de Teogonia e de Os trabalhos e os dias, de Hesíodo, e alguns poemas de Píndaro, reunidos numa coleção chamada Pítica, cujo terceiro volume é o que está disponível.

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