quinta-feira, 26 de março de 2015

Segunda leitura: "Odisséia", de Homero

Segue um breve RESUMO da trama da “ODISSEIA”:

Telêmaco, filho de Ulisses (Odisseu), tinha apenas um mês de idade quando seu pai saiu para combater em Troia. No ponto em que a Odisséia começa, já se passaram dez anos desde o fim da Guerra de Troia – que, por sua vez, durou dez anos. Telêmaco tem, portanto, 20 anos e está dividindo a casa de seu pai ausente, localizada na ilha de Ítaca, com sua mãe, Penélope, e uma multidão de 108 arruaceiros, “os pretendentes”, cuja meta é persuadir Penélope de que seu marido está morto e que ela deve se casar com um deles.

Atena, deusa protetora de Ulisses, disfarçada de Mentes, um chefe táfio, visita Telêmaco e o encoraja a procurar notícias de seu pai. Naquela mesma noite, Atena, disfarçada de Telêmaco, encontra um navio e uma tripulação para o verdadeiro Telêmaco. Ele, no dia seguinte, acompanhado por Atena (agora disfarçada como seu amigo, Mentor), parte para a Grécia continental. Lá é recebido por Nestor, o mais respeitável dos guerreiros gregos de Troia. De lá, Telêmaco parte por terra, acompanhado pelo filho de Nestor, para Esparta, onde encontra Menelau e Helena, já reconciliados; estes descrevem como retornaram à Grécia depois de uma longa viagem, que passou pelo Egito e pela ilha mágica de Faros, onde Menelau encontrou o velho deus do mar Proteu, que lhe contou que Ulisses havia sido aprisionado pela ninfa Calipso. Telêmaco também descobre o destino do irmão de Menelau, Agamêmnon, rei e líder dos gregos em Troia, assassinado logo depois de retornar ao seu lar por sua esposa Clitemnestra e seu amante Egisto.

A obra passa então a narrar a história de Ulisses, que passou sete anos no cativeiro, na ilha de Calipso. Ela é persuadida a libertá-lo pelo deus mensageiro Hermes, enviado por Zeus. Ulisses constrói uma jangada e recebe roupas, comida e bebida de Calipso; acaba naufragando, no entanto, por obra de Poseidon, e é obrigado a nadar até a ilha de Esquéria onde conhece a jovem Nausícaa, que o encoraja a procurar a hospitalidade de seus pais. Ulisses, que inicialmente não se identifica, é bem recebido; permanece no local por diversos dias, participa de um pentatlo e ouve o cantor cego Demódoco declamar poemas narrativos. Um deles conta sobre o Cavalo de Troia, um estratagema no qual Ulisses havia desempenhado um papel crucial. Incapaz de esconder suas emoções ao narrar o episódio, Ulisses finalmente revela sua identidade e começa a contar a fantástica história de seu retorno à Troia. A narrativa, a partir daí, passa a ser majoritariamente recordativa.

Naqueles dias, após uma incursão pirática em Ismara, na terra dos cicones, Ulisses e seus doze navios foram desviados do curso por tempestades. Foram então capturados pelo ciclope Polifemo, do qual escapam apenas após Ulisses cegá-lo com um pedaço afiado de madeira. São recebidos por Éolo, senhor dos ventos, que dá a Ulisses um saco de couro contendo todos os ventos (com a exceção do vento oeste), um presente que deveria lhe ter garantido a viagem de volta para casa; seus marinheiros, no entanto, abrem de maneira tola o saco enquanto ele dormia, pensando que continha ouro; todo o vento voou para fora do saco, e a tempestade resultante mandou os navios de volta para onde haviam vindo, justo quando Ítaca havia acabado de aparecer no horizonte.

Após pedir em vão para que Éolo o ajudasse novamente, Ulisses e seus companheiros reembarcaram nos navios e viajaram até encontrar o canibal Lestrigão. O navio de Ulisses acaba sendo o único a sobreviver ao ataque, e acaba indo parar junto à deusa-bruxa Circe, que transforma metade dos seus homens em porcos, após alimentá-los com vinho e queijo. Hermes, que havia alertado Ulisses a respeito de Circe, dá a ele uma droga que o fazia resistente à magia de Circe. Esta, atraída por esta resistência, apaixonou-se por ele e libertou seus homens a seu pedido. Ulisses e sua tripulação permaneceram na ilha por um ano, durante o qual festejaram, beberam e realizaram banquetes incessantes.

Finalmente, os homens de Ulisses o convencem que é hora de partir para Ítaca; guiado pelas instruções de Circe, cruzam o oceano a atingem um porto na beira ocidental do mundo, onde Ulisses realiza sacrifícios aos mortos e invoca o espírito do velho profeta Tirésias para aconselhá-lo (Canto XI – Nekyia). Em seguida Ulisses encontra o espírito de sua própria mãe, que havia morrido de desgosto durante sua longa ausência; dela, descobre pela primeira vez notícias de sua própria casa e família, ameaçada pela cobiça dos pretendentes. Lá encontra também os espíritos de mulheres e homens famosos, entre eles Agamêmnon, que lhe informa sobre seu assassinato e lhe alerta sobre os perigos das mulheres.

Ao retornar à ilha de Circe, são aconselhados por ela sobre as etapas restantes de sua jornada. Após costearem a terra das Sereias, passam por entre Cila, um monstro de muitas cabeças, e o redemoinho Caribde, e chegam à ilha de Trinácia. Lá, os homens de Ulisses ignoram os avisos de Tirésias e Circe, e abatem o gado sagrado do deus-sol, Hélio; este sacrilégio lhes traz como punição um naufrágio, onde todos morrem afogados, com a exceção de Ulisses, que consegue chegar à ilha de Calipso, ninfa que o força a se tornar seu amante por sete anos, até que ele consegue escapar.

Depois de ouvir com grande atenção a história, os feácios, marinheiros experientes, concordam em ajudar Ulisses a voltar para casa. Deixam-no à noite, enquanto está em sono pesado, num porto escondido em Ítaca. Lá ele consegue chegar à casa de um de seus antigos escravos, o pastor de porcos Eumeu. Ulisses se disfarça como um mendigo vagante, para descobrir como estão as coisas em sua residência. Após jantar, conta aos trabalhadores da fazenda uma história fictícia sobre si, para não revelar sua identidade.

Enquanto isso, Telêmaco navega para casa, vindo de Esparta, fugindo de uma emboscada preparada pelos pretendentes. Desembarca na costa de Ítaca e se dirige à casa de Eumeu; lá, pai e filho se encontram, e Ulisses se identifica para o filho (embora ainda não para Eumeu), e decidem que os pretendentes devem ser mortos.

Telêmaco chega à sua casa primeiro; acompanhado por Eumeu, Ulisses retorna ao seu lar, ainda fingindo ser um mendigo, e presencia as arruaças dos pretendentes. Encontra-se com Penélope, e testa suas intenções com uma história inventada sobre seu nascimento em Creta onde, segundo ele, teria se encontrado com Ulisses e havia sido informado sobre as suas viagens recentes.

No dia seguinte, instigada por Atena, Penélope convence os pretendentes a competir por sua mão, numa competição de arco-e-flecha, utilizando o arco de Ulisses – que participa da competição, ainda disfarçado, e, após ser o único com força suficiente para dobrar o arco, a vence.

Ulisses passa então a disparar flechas contra os pretendentes; com a ajuda de Atena, Telêmaco, Eumeu e Filoteu, um pastor; todos são mortos. Ulisses então finalmente se revela para Penélope, que, hesitante, o aceita após ele descrevê-la a cama que teria construído para ela após se casarem.

No dia seguinte Ulisses e Telêmaco visitam a fazenda de seu velho pai, Laertes, que também só aceita sua identidade após ver Ulisses descrever corretamente o pomar que Laertes lhe dera certa vez.

Os cidadãos de Ítaca, no entanto, seguem Ulisses e Telêmaco ao longo da estrada, planejando vingar as mortes dos pretendentes, seus filhos. O líder do grupo afirma que Ulisses havia causado a morte de duas gerações de homens de Ítaca – seus marinheiros, nenhum dos quais havia sobrevivido à jornada de volta, e os pretendentes, que ele havia agora executado. A deusa Atena intervém pessoalmente, e convence ambos os lados a abandonar a vingança. Ítaca finalmente está em paz novamente. É o fim da Odisseia.

Estrutura dos cantos:
Cantos de I a IV:           Invocação, assembléia dos deuses e telemaquia
Cantos de V a VIII:      Odisseu na ilha de Calipso e entre os feácios
Cantos IX a XIII:          Aventuras de Odisseu após a guerra de Tróia
Cantos XIII e XIV:       Odisseu volta para Ítaca
Cantos XV a XVII:       Pai e filho
Cantos XVIII a XXII:   O fim dos pretendentes
Canto XXIII:                 Odisseu e Penélope
Canto XXIV:                 Odisseu e Laerte. Paz em Ítaca

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Otto Maria CARPEAUX nos diz o seguinte:

“[...] Na aparência, não há ligação entre o ‘Nostos’, a viagem de Ulisses pelo Mediterrâneo em busca da pátria, e o ‘Romance de Ítaca’, a expulsão dos pretendentes da fiel Penélope. O ‘Nostos’ é um grande conto de fadas: as aventuras de um capitão fantástico, entre lotófagos, ciclopes, sereias, faiacos, nas ilhas da Calipso e da Circe, entre os rochedos de Cilas e Caríbdis; é, ao mesmo tempo, pesadelo e sonho de felicidade de marinheiros gregos. O ‘Romance de Ítaca’ não é conto de fadas: é um quadro doméstico, quase burguês, descrito com o realismo de um comediógrafo parisiense do século XIX, com intervenções de realismo popular, desde a figura do pastor até o cão de Ulisses, que reconhece o dono e morre. Exatamente no meio, entre as duas partes, no canto XI, há a ‘Nekyia’, a descida de Ulisses ao Hades, onde encontra os mortos da guerra troiana lamentando a vida perdida. Com esse episódio as aventuras acabam. A partir desse momento o poeta dos heróis canta a realidade prosaica: a casa, a família, os criados e o cão. No reino da Morte, Ulisses encontra o caminho da vida. A ‘Nekya’, entre as aventuras fantásticas e o caminho de casa, serve para comemorar o fim sombrio de Troia e o destino trágico dos gregos, dos quais só Ulisses encontrará a paz final na vida de um aristocrata grego com os seus filhos, criados e animais domésticos. Com esse ‘realismo nobre’, confirma-se a unidade íntima entre a Ilíada e a Odisseia”.

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Os arquivos de texto e áudio a respeito desta leitura (apostila, cantos e a própria leitura feita em sala) encontram-se disponíveis na pasta de arquivos online através do seguinte link:

https://www.dropbox.com/sh/hof3pspt84xysp4/AACWFYvY7-ujzcCImTYk1e0Oa?dl=0

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