segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Primeira lista de obras e autores medievais

A lista a seguir continua o trajeto de onde o havíamos deixado  fim de Roma – e vai até meados da Idade Média, dividindo-se em três partes maiores: literatura cristã primitiva (Patrística e bizantina), literatura de fundação da Europa e literatura latina medieval (e cristã medieval):


LITERATURA CRISTÃ PRIMITIVA (PATRÍSTICA E BIZANTINA)

TERTULIANO
“O São João Batista da literatura patrística (de transição, com objetivos de apologia dogmática e historiografia eclesiástica)”; “polemista terrivelmente agressivo”; de “estilo violento, artificial, obscuro”; é “um Apuleio às avessas, um individualista furioso, um dos maiores escritores de língua latina e um romano autêntico”.
            Apologeticum

SANTO AMBRÓSIO
“Romano autêntico [...], ao qual a tradição atribui a criação do hino litúrgico”; “mais homem de ação do que escritor”; “sabia reunir imperialismo eclesiástico e dignidade sacerdotal”.
            De Officiis Ministrorum
            Hinos

SÃO JERÔNIMO
“Escritor, literato até”; “o literato mais típico entre os Padres da Igreja”; “criou uma língua nova e uma nova literatura”; “anti-humanista furioso, é o primeiro grande humanista europeu”; “A Vulgata é a Eneida do cristianismo”.
            Vuglata
            De viris illustribus

SANTO AGOSTINHO
“Uma das maiores personagens da literatura universal”; “para a literatura universal, é o Colombo de um novo continente”; “é da raça dos twice born, à qual pertencem os maiores gênios religiosos da humanidade, um Paulo, um Lutero, um Pascal”.
            Confissões
            Solilóquios       
            A Cidade de Deus
            A cidade dos homens
            Contra Academicos
            De Immortalitate Animae
            De Musica
            De Libero Arbitrio
            De Genesi
            De Corruptione et Gratia

HINÁRIO DA IGREJA LATINA
            Nunc sancte nobis Spiritus
            Splendor paternae gloriae
            Jesu corona virginum
            Te Deum laudamus
            Deus creator omnium
            Iam surgit hora tertia

PRUDÊNCIO
“O verdadeiro Ambrósio da poesia latina cristã”; “o maior poeta da antiga Igreja romana”; “mais sério [que] Horácio, mais humano [que] Píndaro”; “é essencialmente um poeta lírico [...], um dos raros [...] que conseguiram criar um mundo completo de poesia”.
            Psychomachia
            Peristephanon
            Cathemerinon

VENÂNCIO FORTUNATO
“Um poeta habilíssimo para ocasiões oficiais”; “sabe exprimir os mistérios do credo em símbolos poéticos de autêntica feição romana”.
            Hinos

SÃO GREGÓRIO MAGNO
“Grande Papa, que também foi chamado de ‘o último romano’ e que é fundador da Igreja medieval”; “simplista”; “inimigo do humanismo”; “homem cheio de angústias apocalípticas”; “um espírito sóbrio, seco, prático; um romano”.
            Liber dialogorum seu De vita et miraculis patrum italicorum
            Liber regulae pastoralis
            Registra

LITURGIA ROMANA
“A história da liturgia romana encontra-se no Liber pontificalis, na correspondência papal e nos martiriológios romanos”.

ROMANOS
“O maior poeta da literatura bizantina”; “não parece muito original”; “[seus] hinos distinguem-se pela inspiração desenfreada, que às vezes rompe as formas hieráticas, transformando-se em balbuciação extática”.
            Hinos

PROCÓPIO DE CESARÉIA
“Historiador [bizantino]; nas Historia varia descreveu os feitos militares e a cultura da corte imperial; nas Historia arcana, a corrupção infame da mesma corte e das mesmas pessoas que tinha elogiado”.
            Historia varia
            Historia arcana

JOHANNES MALALAS
“Cronista popular [bizantino], lido em voz alta nas esquinas, traduzido depois para muitas línguas e primeiro fator da europeização dos eslavos”.
            Chronographia

PHOTIOS
“Eruditíssimo”; “herói da formação universitária”; “patriarca de Bizâncio e adversário cismático da Santa Sé em Roma”.
            Myrobiblion

CONSTANTINO PORFIROGENITO
“Imperador”; “digna-se de escrever uma espécie de regulamento interno da corte, no qual se criam as ‘magnificências’, ‘excelências’, ‘ilustríssimos’ e ‘excelentíssimos’ da nossa burocracia e dos nossos envelopes”.
            De caerimoniis aulae

CONSTANTINO MIGUEL PSELO
“Filósofo platônico e algo como um poeta parnasiano em meio dos tumultos na rua e das guerras com eslavos e mongóis”.
            Chronographia

THEODOROS PRODROMOS
“Mendigo e parasito, boêmio e monge, excessivo e melancólico como um Villon bizantino”.
            Poesias

***


LITERATURA DE FUNDAÇÃO DA EUROPA

BEDA VENERABILIS
“O primeiro scholar inglês”; “monge assim, [dos que] gostam de dedicar-se, em modestas casas de campo em torno da igreja, ao estudo das letras clássicas”; “de erudição universal, mas de um horizonte intencionalmente limitado à sua ilha”.
            Historia ecclesiastica gentis Anglorum

CYNEWULF
“Último e maior dos poetas anglo-saxões”; “mistura de religiosidade e gosto pela poesia descritiva [...], tipicamente [inglês]”.
            Christ
            Elene

ALCUÍNO
“Ministro da educação [do Imperador Carlos Magno]”; “discípulo indireto de Beda”; “mestre-escola e clérigo”; “todas as suas obras têm fins didáticos, às vezes em forma de catecismo”.
            Disputatio puerorum per interrogationes et responsiones
            De retorica
            De dialetica

EKKEHARD I
“O primeiro de quatro monges famosos com esse nome”; “a forma virgiliana e o espírito de guerreiro germânico se misturaram com a nostalgia do monge pelo vasto mundo lá fora”.
            Waltharius manu fortis

EKKEHARD IV
“Escreveu a crônica do convento [Sankt Gallen, na Suíça]”.
            Casus sancti galli

SÃO GREGÓRIO DE TOURS
“O seu latim é bárbaro e horrivelmente confuso, mas a sua fé [...] é de uma ortodoxia impecável”; “historiador dos merovíngios”; “fiel, digno de toda a confiança; só a sua filosofia da história é algo infantil”.
            De vita patrum
            História dos francos

LENDA DE BEOWULF
“Considerado hoje como o poema épico mais poderoso que já se escreveu nas ilhas britânicas”.

PAULO DIÁCONO
“Velho monge de Monte Cassino”; “transmite fielmente as lendas que ouviu na infância, sem lhes entender o fundo pagão”.
            Historia longobardorum

EDDAS
“Vasta compilação [islandesa] de canções mitológico-heróicas e poemas didáticos”; “monumento principal [da] literatura notável em língua islandesa”; “verdadeiro compêndio da mitologia nórdica”; “[seus] poemas heróicos [são] versões posteriores da lenda semi-histórica dos germanos do sul, adaptadas apenas ao espírito nórdico, que apareceu nu e cru nos poemas mitológicos da Edda”.

SNORRI STURLUSON
Sua historiografia “informa o mesmo estado de espírito” nórdico das Eddas.
            Heimskringla

EGIL SKALLAGRIMSSON
Viking violento”; “batido e indomável, cruel e nobre, avarento e infame, e um grande poeta”.
            Poemas (esp. a canção fúnebre Sanatorrek)

SAXO GRAMMATICUS
“Pertence ao número dos humanistas do séc. XIII da estirpe de Johannes de Salisbury e Alexander de Hales; é o Lívio de sua nação”; “como Lívio, inclui lendas nacionais na sua história, não por credulidade, mas por orgulho”; “[seu] latim é duro, mas não bárbaro”.
            Gesta danorum

HROTSWITH VON GANDERSHEIM
“Religiosa alemã”; “escreveu oito comédias hagiográficas, em estilo terenciano, primeira tentativa do humanismo cristão para criar um teatro”.
            Dulcitius
            Callimachus
            Theophillus

NOVOS HINÓGRAFOS ECLESIÁSTICOS
Rabanus Maurus, Venâncio Fortunato, Teodulfo de Orléans, Notker Balbulus (o inventor, provavelmente, de uma nova forma litúrgica: a seqüência, poemas em versículos, espécie de verso livre), Hermanus Contractus (provavelmente o autor do Salve, Regina)


PETRUS DAMIANI
“Asceta furioso, que se flagela duramente a si mesmo, não é menos rigoroso para com o mundo”; “[sua]a alma ‘naturalmente conventual’ é também a de um político [...], a de um diretor de consciências e homens”.
            Poesias

ADAM DE SÃO VICTOR
“Grande poeta”; “o valor da sua poesia reside mais nas qualidades literárias do que nas qualidades litúrgicas”; “um criador de símbolos”; “arte quase parnasiana”.
            Salve, mater salvatoris [hino]
            Ave, virgo singularis [hino]

GEOFFREY DE MONMOUTH
“‘Historiador’”; “pretendeu criar, intencionalmente, um pendant inglês da gesta francesa”.
            Historia regum britanniae

CANÇÃO DE ROLANDO
“Representa a época em que os franceses estavam mal cristianizados, e, por assim dizer, ainda não eram franceses. Eram francos”; “pertence à época da transição entre a barbaria germânica e a civilização francesa”; “é um dos grandes e um dos mais fortes poemas bárbaros da literatura universal”.

POEMA DE MÍO CID
“Obra de arte, intencionalmente feita”; “forte acento patriótico-religioso”; “fundo germânico, visigótico, da inspiração do poema”; “não é possível, porém, negar a influência francesa”; “uma ‘geste’; mas é uma gesta espanhola, ou antes – mais exatamente – uma gesta castelhana, ‘dura e sólida como os muros românicos de Ávila’”; “é o monumento mais notável – e mais antigo – da literatura espanhola”.

NIBELUNGENLIED
“É o canto fúnebre do mundo germânico pagão”; “revela que no século XIII o cristianismo ainda não tinha penetrado a fundo na alma alemã”; “é a única obra ‘moderna’ em que existe algo do espírito da tragédia grega”; epopéia “nacional” germânica, trabalhada sobre lendas populares, resquícios de mitologia pagã, espírito guerreiro nórdico e enxertos de elementos do cristianismo.

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LITERATURA LATINA MEDIEVAL E CRISTÃ MEDIEVAL

ALEXANDER NECKHAM
“Agostiniano inglês”; “escreveu para o ensino monástico [um] manual da mitologia pagã”.
            Mythographus

VICENTIUS DE BEAUVAIS
“Famoso polígrafo”; “apresenta um quadro quase completo de conhecimentos clássicos”.
            De eruditione filiorum nobilium

FIM DA HINOGRAFIA MEDIEVAL
Ingleses John de Hoveden, John Peckham e o francês Philippe de Grève.

JACOPUS DE VARAGINE
“Dominicano”; “fonte inesgotável de iconografia medieval”; “cume da hagiografia”; “só deixou lugar para os epígonos”.
            Legenda aurea

WALAFRID STRABO
“Monge”; “[autor da] visio mais antiga”; “viu as almas nos três reinos sobrenaturais”.
            Visio Wettini

NARRATIVAS DE VISÕES MÍSTICAS (VISIO)
            Purgatorium Santi Patricii, Visio Tungdani.

RELATOS DE VIAGENS (MIRABILIA)
Mirabilia urbis Romae (Pe. Benedictus), Narratio de mirabilibus urbis Romae (Osbern de Gloucester), Descriptio terrae sanctae (Johannes de Wuerzburg).

GUIBERT DE NOGENT
“Descreveu a primeira cruzada”; “o patriota”.
            Gesta Dei per francos

MATTHAEUS PARISIENSIS
“[Monge de St. Alban] sem veleidades de panache, com o espírito prático de inglês e diplomata eclesiástico”; “escreveu o maior monumento da Inglaterra católica”; “o político”.
            Chronica major

SALIMBENE DE PARMA
“Frei franciscano”; “homem do povo e da vida pitoresca”.
            Chronica

BERNARDUS DE MORLAS
“O maior moralista medieval”; “cluniacense”.
            De contemptu mundi

GESTA ROMANORUM
“Vasta coleção [...] que reúne contos das mais variadas origens, da Antigüidade Clássica e até da Índia, uniformizados pela mentalidade medieval, da qual a obra é um espelho perfeito”.

PEDRO ABELARDO
“Cavaleiro perdido entre os clérigos”; “de uma inteligência superior”; “o primeiro racionalista e artista tipicamente francês, ou antes parisiense”.
            Historia calamitatum mearum
            Hymnorum
            Sic et Non

ALANUS AB INSULIS
“‘Racionalista’ moderado, ‘classicista’ conservador”; “eruditíssimo”; “também se revela um pouco conformista”; “entusiasta místico da natureza”.
            Anticlaudianus
            Liber de plancto naturae

JOHANNES DE SALISBURY
“Bispo de Chartres”; “homem de cultura francesa e serenidade inglesa”; “‘prelado romano’”; “ortodoxo quanto aos dogmas essenciais e cético quanto ao resto”; “parece, às vezes, um precursor longínquo de Thomas More; outra vez, um cardeal da Renascença”.
            Entheticus de dogmate philosophorum
            Historia pontificalis
            Historia Thomae Cantuarensis
            Policraticus sive de nugis curialium et vestigiis philosophorum

HUGO DE ORLÉANS
“Primeiro goliardo autêntico”; “magister”.
            Poesias

CARMINA BURANA
“O maior corpus dessas poesias [de goliardos]”; “o autor coletivo da poesia dos ‘clerici vagantes’ é um grande poeta, talvez um dos maiores da literatura universal. Em primeira linha, é um humorista sutil, que sabe inventar frases sempre novas e engenhosas para pedir dinheiro aos ricos”; “gênio, corrompido e perdido na taverna; depois, desaparece sem deixar vestígios”.

RAIMUNDO LÚLIO
“O santo da Catalunha”; “figura na qual os dois termos [símbolo e alegoria] se encontram”; “fenômeno raro: um gênio confuso”; “como poeta, é um ‘jogral de Deus’”; “[sua] confissão poética seria o pendant sério da poesia goliarda”; “pretendeu reduzir a fórmulas alegóricas o inefável, que se tinha revelado ao místico em símbolos; era um grande poeta pela ambiguidade íntima da sua alma”.
            Plant de Nostra Dona
            Los cent noms de Deu
            Lo cant de Ramón
            Mil provérbios
            Llibre del gentil y de los tres sábios
            Blanquerna
            Llibre de contemplació
            Art general
            Ordre de la Cavalleria
            Arbre de Sciencia
            Arbre de Filosofia d’amor.

SÃO BERNARDO DE CLARAVAL
“Aliança de asceta visionário e político ascético”; “inimigo do poder corruptor”; “[de um] ascetismo cultural [...] suscetível de efusões líricas”.
            De consideratione
            Jesu dulcis memoria [hino]
            Salve, caput cruentatum [hino]

SANTO TOMÁS DE AQUINO
“O maior teólogo dogmático da Igreja [e] o seu maior poeta litúrgico”; “grande poesia”; “[seus hinos] reúnem duas qualidades que raramente se encontram na poesia lírica: a maior precisão e a maior musicalidade”.
            Pangue, língua, gloriosi
            Lauda, Sion, Salvatorem
            Adoro te devote

OUTROS MÍSTICOS MEDIEVAIS
Hugo de São Vítor, Ricardo de São Vítor, Santa Hildegarda de Bingen, Mechthild de Magdeburg, Mechthild de Hackenborn e Santa Gertrudes.