A lista a seguir continua o trajeto de onde o havíamos deixado – fim de Roma – e vai até meados da Idade Média, dividindo-se em três partes maiores: literatura cristã primitiva (Patrística e bizantina), literatura de fundação da Europa e literatura latina medieval (e cristã medieval):
LITERATURA CRISTÃ PRIMITIVA (PATRÍSTICA E BIZANTINA)
TERTULIANO
“O São João
Batista da literatura patrística (de transição, com objetivos de apologia
dogmática e historiografia eclesiástica)”; “polemista terrivelmente agressivo”;
de “estilo violento, artificial, obscuro”; é “um Apuleio às avessas, um
individualista furioso, um dos maiores escritores de língua latina e um romano
autêntico”.
Apologeticum
SANTO AMBRÓSIO
“Romano
autêntico [...], ao qual a tradição atribui a criação do hino litúrgico”; “mais
homem de ação do que escritor”; “sabia reunir imperialismo eclesiástico e
dignidade sacerdotal”.
De Officiis Ministrorum
Hinos
SÃO JERÔNIMO
“Escritor,
literato até”; “o literato mais típico entre os Padres da Igreja”; “criou uma
língua nova e uma nova literatura”; “anti-humanista furioso, é o primeiro
grande humanista europeu”; “A Vulgata
é a Eneida do cristianismo”.
Vuglata
De
viris illustribus
SANTO AGOSTINHO
“Uma das
maiores personagens da literatura universal”; “para a literatura universal, é o
Colombo de um novo continente”; “é da raça dos twice born, à qual pertencem os maiores gênios religiosos da
humanidade, um Paulo, um Lutero, um Pascal”.
Confissões
Solilóquios
A Cidade de Deus
A cidade dos homens
Contra Academicos
De Immortalitate Animae
De Musica
De Libero Arbitrio
De Genesi
De Corruptione et Gratia
HINÁRIO DA
IGREJA LATINA
Nunc
sancte nobis Spiritus
Splendor
paternae gloriae
Jesu
corona virginum
Te
Deum laudamus
Deus
creator omnium
Iam
surgit hora tertia
PRUDÊNCIO
“O
verdadeiro Ambrósio da poesia latina cristã”; “o maior poeta da antiga Igreja
romana”; “mais sério [que] Horácio, mais humano [que] Píndaro”; “é
essencialmente um poeta lírico [...], um dos raros [...] que conseguiram criar
um mundo completo de poesia”.
Psychomachia
Peristephanon
Cathemerinon
VENÂNCIO FORTUNATO
“Um poeta
habilíssimo para ocasiões oficiais”; “sabe exprimir os mistérios do credo em
símbolos poéticos de autêntica feição romana”.
Hinos
SÃO GREGÓRIO MAGNO
“Grande
Papa, que também foi chamado de ‘o último romano’ e que é fundador da Igreja
medieval”; “simplista”; “inimigo do humanismo”; “homem cheio de angústias
apocalípticas”; “um espírito sóbrio, seco, prático; um romano”.
Liber
dialogorum seu De vita et miraculis patrum italicorum
Liber
regulae pastoralis
Registra
LITURGIA
ROMANA
“A história
da liturgia romana encontra-se no Liber
pontificalis, na correspondência papal e nos martiriológios romanos”.
ROMANOS
“O maior
poeta da literatura bizantina”; “não parece muito original”; “[seus] hinos
distinguem-se pela inspiração desenfreada, que às vezes rompe as formas
hieráticas, transformando-se em balbuciação extática”.
Hinos
PROCÓPIO DE CESARÉIA
“Historiador
[bizantino]; nas Historia varia
descreveu os feitos militares e a cultura da corte imperial; nas Historia arcana, a corrupção infame da
mesma corte e das mesmas pessoas que tinha elogiado”.
Historia
varia
Historia
arcana
JOHANNES MALALAS
“Cronista
popular [bizantino], lido em voz alta nas esquinas, traduzido depois para
muitas línguas e primeiro fator da europeização dos eslavos”.
Chronographia
PHOTIOS
“Eruditíssimo”;
“herói da formação universitária”; “patriarca de Bizâncio e adversário
cismático da Santa Sé em Roma”.
Myrobiblion
CONSTANTINO PORFIROGENITO
“Imperador”;
“digna-se de escrever uma espécie de regulamento interno da corte, no qual se
criam as ‘magnificências’, ‘excelências’, ‘ilustríssimos’ e ‘excelentíssimos’
da nossa burocracia e dos nossos envelopes”.
De
caerimoniis aulae
CONSTANTINO MIGUEL PSELO
“Filósofo
platônico e algo como um poeta parnasiano em meio dos tumultos na rua e das
guerras com eslavos e mongóis”.
Chronographia
THEODOROS PRODROMOS
“Mendigo e
parasito, boêmio e monge, excessivo e melancólico como um Villon bizantino”.
Poesias
***
LITERATURA DE FUNDAÇÃO DA EUROPA
BEDA VENERABILIS
“O primeiro scholar inglês”; “monge assim, [dos que]
gostam de dedicar-se, em modestas casas de campo em torno da igreja, ao estudo
das letras clássicas”; “de erudição universal, mas de um horizonte
intencionalmente limitado à sua ilha”.
Historia
ecclesiastica gentis Anglorum
CYNEWULF
“Último e
maior dos poetas anglo-saxões”; “mistura de religiosidade e gosto pela poesia
descritiva [...], tipicamente [inglês]”.
Christ
Elene
ALCUÍNO
“Ministro da
educação [do Imperador Carlos Magno]”; “discípulo indireto de Beda”;
“mestre-escola e clérigo”; “todas as suas obras têm fins didáticos, às vezes em
forma de catecismo”.
Disputatio
puerorum per interrogationes et responsiones
De
retorica
De
dialetica
EKKEHARD I
“O primeiro
de quatro monges famosos com esse nome”; “a forma virgiliana e o espírito de
guerreiro germânico se misturaram com a nostalgia do monge pelo vasto mundo lá
fora”.
Waltharius
manu fortis
EKKEHARD IV
“Escreveu a
crônica do convento [Sankt Gallen, na Suíça]”.
Casus
sancti galli
SÃO GREGÓRIO DE TOURS
“O seu latim
é bárbaro e horrivelmente confuso, mas a sua fé [...] é de uma ortodoxia
impecável”; “historiador dos merovíngios”; “fiel, digno de toda a confiança; só
a sua filosofia da história é algo infantil”.
De
vita patrum
História
dos francos
LENDA DE
BEOWULF
“Considerado
hoje como o poema épico mais poderoso que já se escreveu nas ilhas britânicas”.
PAULO DIÁCONO
“Velho monge
de Monte Cassino”; “transmite fielmente as lendas que ouviu na infância, sem
lhes entender o fundo pagão”.
Historia
longobardorum
EDDAS
“Vasta compilação
[islandesa] de canções mitológico-heróicas e poemas didáticos”; “monumento
principal [da] literatura notável em língua islandesa”; “verdadeiro compêndio
da mitologia nórdica”; “[seus] poemas heróicos [são] versões posteriores da
lenda semi-histórica dos germanos do sul, adaptadas apenas ao espírito nórdico,
que apareceu nu e cru nos poemas mitológicos da Edda”.
SNORRI STURLUSON
Sua
historiografia “informa o mesmo estado de espírito” nórdico das Eddas.
Heimskringla
EGIL SKALLAGRIMSSON
“Viking violento”; “batido e indomável,
cruel e nobre, avarento e infame, e um grande poeta”.
Poemas
(esp. a canção fúnebre Sanatorrek)
SAXO GRAMMATICUS
“Pertence ao
número dos humanistas do séc. XIII da estirpe de Johannes de Salisbury e
Alexander de Hales; é o Lívio de sua nação”; “como Lívio, inclui lendas
nacionais na sua história, não por credulidade, mas por orgulho”; “[seu] latim
é duro, mas não bárbaro”.
Gesta
danorum
HROTSWITH VON GANDERSHEIM
“Religiosa
alemã”; “escreveu oito comédias hagiográficas, em estilo terenciano, primeira
tentativa do humanismo cristão para criar um teatro”.
Dulcitius
Callimachus
Theophillus
NOVOS
HINÓGRAFOS ECLESIÁSTICOS
Rabanus Maurus, Venâncio Fortunato, Teodulfo
de Orléans, Notker Balbulus (o
inventor, provavelmente, de uma nova forma litúrgica: a seqüência, poemas em versículos, espécie de verso livre), Hermanus Contractus (provavelmente o
autor do Salve, Regina)
PETRUS DAMIANI
“Asceta
furioso, que se flagela duramente a si mesmo, não é menos rigoroso para com o
mundo”; “[sua]a alma ‘naturalmente conventual’ é também a de um político [...],
a de um diretor de consciências e homens”.
Poesias
ADAM DE SÃO VICTOR
“Grande poeta”; “o valor da sua poesia reside mais nas qualidades literárias do que nas qualidades litúrgicas”; “um criador de símbolos”; “arte quase parnasiana”.
Salve, mater salvatoris [hino]
Ave, virgo singularis [hino]
GEOFFREY DE MONMOUTH
“‘Historiador’”; “pretendeu criar, intencionalmente, um pendant inglês da gesta francesa”.
Historia regum britanniae
CANÇÃO DE ROLANDO
“Representa a época em que os franceses estavam mal cristianizados, e, por assim dizer, ainda não eram franceses. Eram francos”; “pertence à época da transição entre a barbaria germânica e a civilização francesa”; “é um dos grandes e um dos mais fortes poemas bárbaros da literatura universal”.
POEMA DE MÍO CID
“Obra de arte, intencionalmente feita”; “forte acento patriótico-religioso”; “fundo germânico, visigótico, da inspiração do poema”; “não é possível, porém, negar a influência francesa”; “uma ‘geste’; mas é uma gesta espanhola, ou antes – mais exatamente – uma gesta castelhana, ‘dura e sólida como os muros românicos de Ávila’”; “é o monumento mais notável – e mais antigo – da literatura espanhola”.
NIBELUNGENLIED
“É o canto fúnebre do mundo germânico pagão”; “revela que no século XIII o cristianismo ainda não tinha penetrado a fundo na alma alemã”; “é a única obra ‘moderna’ em que existe algo do espírito da tragédia grega”; epopéia “nacional” germânica, trabalhada sobre lendas populares, resquícios de mitologia pagã, espírito guerreiro nórdico e enxertos de elementos do cristianismo.
***
LITERATURA LATINA MEDIEVAL E CRISTÃ MEDIEVAL
ALEXANDER NECKHAM
“Agostiniano inglês”; “escreveu
para o ensino monástico [um] manual da mitologia pagã”.
Mythographus
VICENTIUS DE BEAUVAIS
“Famoso polígrafo”; “apresenta um
quadro quase completo de conhecimentos clássicos”.
De
eruditione filiorum nobilium
FIM DA HINOGRAFIA MEDIEVAL
Ingleses John de Hoveden, John
Peckham e o francês Philippe de Grève.
JACOPUS DE VARAGINE
“Dominicano”; “fonte inesgotável
de iconografia medieval”; “cume da hagiografia”; “só deixou lugar para os
epígonos”.
Legenda
aurea
WALAFRID STRABO
“Monge”; “[autor da] visio mais
antiga”; “viu as almas nos três reinos sobrenaturais”.
Visio
Wettini
NARRATIVAS DE VISÕES MÍSTICAS (VISIO)
Purgatorium
Santi Patricii, Visio
Tungdani.
RELATOS DE VIAGENS (MIRABILIA)
Mirabilia urbis Romae (Pe. Benedictus), Narratio de
mirabilibus urbis Romae (Osbern de Gloucester), Descriptio terrae
sanctae (Johannes de Wuerzburg).
GUIBERT DE NOGENT
“Descreveu a primeira cruzada”;
“o patriota”.
Gesta
Dei per francos
MATTHAEUS PARISIENSIS
“[Monge de St. Alban] sem
veleidades de panache, com o espírito prático de inglês e diplomata
eclesiástico”; “escreveu o maior monumento da Inglaterra católica”; “o
político”.
Chronica
major
SALIMBENE DE PARMA
“Frei franciscano”; “homem do
povo e da vida pitoresca”.
Chronica
BERNARDUS DE MORLAS
“O maior moralista medieval”; “cluniacense”.
De
contemptu mundi
GESTA ROMANORUM
“Vasta coleção [...] que reúne
contos das mais variadas origens, da Antigüidade Clássica e até da Índia,
uniformizados pela mentalidade medieval, da qual a obra é um espelho perfeito”.
PEDRO ABELARDO
“Cavaleiro perdido entre os
clérigos”; “de uma inteligência superior”; “o primeiro racionalista e artista
tipicamente francês, ou antes parisiense”.
Historia
calamitatum mearum
Hymnorum
Sic
et Non
ALANUS AB INSULIS
“‘Racionalista’ moderado, ‘classicista’
conservador”; “eruditíssimo”; “também se revela um pouco conformista”;
“entusiasta místico da natureza”.
Anticlaudianus
Liber
de plancto naturae
JOHANNES DE SALISBURY
“Bispo de Chartres”; “homem de
cultura francesa e serenidade inglesa”; “‘prelado romano’”; “ortodoxo quanto
aos dogmas essenciais e cético quanto ao resto”; “parece, às vezes, um
precursor longínquo de Thomas More; outra vez, um cardeal da Renascença”.
Entheticus
de dogmate philosophorum
Historia
pontificalis
Historia
Thomae Cantuarensis
Policraticus
sive de nugis curialium et vestigiis philosophorum
HUGO DE ORLÉANS
“Primeiro goliardo autêntico”; “magister”.
Poesias
CARMINA BURANA
“O maior corpus dessas
poesias [de goliardos]”; “o autor coletivo da poesia dos ‘clerici vagantes’
é um grande poeta, talvez um dos maiores da literatura universal. Em primeira
linha, é um humorista sutil, que sabe inventar frases sempre novas e engenhosas
para pedir dinheiro aos ricos”; “gênio, corrompido e perdido na taverna;
depois, desaparece sem deixar vestígios”.
RAIMUNDO LÚLIO
“O santo da Catalunha”; “figura
na qual os dois termos [símbolo e alegoria] se encontram”; “fenômeno raro: um
gênio confuso”; “como poeta, é um ‘jogral de Deus’”; “[sua] confissão poética
seria o pendant sério da poesia goliarda”; “pretendeu reduzir a fórmulas
alegóricas o inefável, que se tinha revelado ao místico em símbolos; era um
grande poeta pela ambiguidade íntima da sua alma”.
Plant
de Nostra Dona
Los
cent noms de Deu
Lo
cant de Ramón
Mil
provérbios
Llibre
del gentil y de los tres sábios
Blanquerna
Llibre
de contemplació
Art
general
Ordre
de la Cavalleria
Arbre
de Sciencia
Arbre
de Filosofia d’amor.
SÃO BERNARDO DE CLARAVAL
“Aliança de asceta visionário e
político ascético”; “inimigo do poder corruptor”; “[de um] ascetismo cultural
[...] suscetível de efusões líricas”.
De
consideratione
Jesu
dulcis memoria [hino]
Salve,
caput cruentatum [hino]
SANTO TOMÁS DE AQUINO
“O maior teólogo dogmático da
Igreja [e] o seu maior poeta litúrgico”; “grande poesia”; “[seus hinos] reúnem
duas qualidades que raramente se encontram na poesia lírica: a maior precisão e
a maior musicalidade”.
Pangue,
língua, gloriosi
Lauda,
Sion, Salvatorem
Adoro
te devote
OUTROS MÍSTICOS MEDIEVAIS
Hugo
de São Vítor, Ricardo de São Vítor, Santa
Hildegarda de Bingen, Mechthild de Magdeburg, Mechthild de
Hackenborn e Santa Gertrudes.